Transformação Digital em Bancos: Como superar os desafios dos sistemas legados

A transformação digital no setor bancário é uma necessidade para acompanhar as mudanças do mercado e atender às expectativas dos clientes. No entanto, o caminho para a modernização enfrenta um grande obstáculo: os sistemas legados. 

Criados em um contexto tecnológico totalmente diferente, essas estruturas que antes sustentavam a operação dos bancos agora limitam sua capacidade de adaptação.

Esses sistemas antigos dificultam a implementação de soluções ágeis, reduzem a eficiência e tornam mais complexa a tarefa de colocar o cliente no centro das estratégias. 

Sem superar essa barreira, os bancos correm o risco de ficar presos a modelos analógicos, enquanto o restante do mercado avança em direção a experiências mais conectadas e inovadoras.

Por que os sistemas legados travam o crescimento dos bancos?

Os sistemas legados foram criados em uma época em que o volume de transações e dados era muito menor. Por conta de sua arquitetura monolítica e infraestrutura engessada, esses sistemas não conseguem acompanhar o crescimento exponencial das demandas atuais.

Um levantamento recente da Gartner aponta que 78% dos CIOs do setor bancário identificam a falta de escalabilidade dos sistemas legados como um dos maiores entraves à transformação digital. Essa limitação impacta diretamente a operação. Lançar um novo produto, atender a picos de transações em datas comemorativas ou expandir para outros mercados são tarefas que acabam comprometidas por lentidão, instabilidade e, em situações extremas, interrupções no serviço.

Os gargalos operacionais gerados pela falta de escalabilidade não apenas afetam a experiência do cliente, mas também dificultam a capacidade dos bancos de responder rapidamente às oscilações do mercado e se posicionar de forma competitiva.

O Impacto dos débitos técnicos nos bancos

Os sistemas legados carregam um fardo que muitas vezes passa despercebido, mas impacta diretamente a eficiência dos bancos: os débitos técnicos. Esses problemas são o resultado de décadas de ajustes paliativos, código mal documentado, integrações complicadas e tecnologias que ficaram para trás no tempo.

De acordo com uma pesquisa da Forrester, 85% das instituições financeiras admitem que os débitos técnicos nos sistemas legados comprometem sua capacidade de inovar. Além de serem difíceis de manter, essas plataformas exigem um esforço desproporcional para qualquer mudança, já que alterações pequenas podem desencadear uma série de erros inesperados. Isso sobrecarrega equipes de TI que, em vez de investir energia em projetos estratégicos, acabam gastando a maior parte do tempo corrigindo problemas.

O impacto financeiro é expressivo. Um estudo da IDC revelou que bancos com altos níveis de débito técnico nos sistemas principais gastam, em média, 65% mais em manutenção do que em novas implementações. Esse cenário cria um ciclo vicioso onde grande parte do orçamento e dos recursos se destina a corrigir problemas imediatos, deixando pouco espaço para iniciativas estratégicas ou projetos inovadores.

Riscos de falhas em sistemas legados

A idade e a complexidade dos sistemas legados aumentam significativamente o risco de falhas. A situação é agravada pela falta de profissionais com experiência em tecnologias antigas, como COBOL, dificultando a identificação e a solução de problemas críticos.

Um levantamento da McKinsey revelou que 63% dos bancos enfrentaram interrupções de serviços nos últimos dois anos por falhas nos sistemas legados. Quando operações essenciais, como pagamentos ou transferências, ficam indisponíveis, a insatisfação dos clientes cresce rapidamente, comprometendo a relação com a instituição.

Esses incidentes podem causar danos duradouros, como demonstrou o caso de um banco europeu que ficou dias fora do ar, resultando em prejuízos financeiros e na perda de confiança por parte de seus correntistas. Para instituições financeiras, falhas desse tipo não apenas representam um custo imediato, mas também colocam em risco sua capacidade de competir com novos players no setor.

Como a inércia tecnológica afeta decisões e a cultura organizacional

A rigidez dos sistemas legados vai além da tecnologia. Décadas operando sob as mesmas rotinas e processos criaram uma mentalidade resistente à mudança em muitas instituições bancárias. A lógica do “sempre foi feito assim” moldou uma cultura organizacional que evita questionar métodos estabelecidos, dificultando a adoção de práticas como Agile e DevOps, essenciais para a transformação digital.

Essa resistência não é exclusividade dos níveis operacionais. Ela também se reflete nas lideranças, resultando em um processo de decisão lento e marcado pela aversão ao risco. Alterar o que “ainda está funcionando” é visto como uma ameaça, mesmo quando o funcionamento está longe de ser ideal. O medo de comprometer sistemas críticos alimenta adiamentos e cortes orçamentários em projetos de modernização que poderiam aumentar a competitividade a longo prazo.

Muitas vezes, o foco nos custos imediatos de uma eventual modernização ofusca os benefícios futuros e os custos de oportunidade de manter sistemas ultrapassados. A complexidade dos legados, com suas interdependências pouco documentadas, dificulta a avaliação precisa de riscos e benefícios, tornando a tomada de decisão ainda mais lenta e insegura.

O resultado é uma cultura onde a estabilidade, mesmo que ilusória, é priorizada, enquanto a inovação fica em segundo plano. Essa postura cria um ambiente que sufoca mudanças e torna a transformação digital um objetivo distante. Um estudo da Boston Consulting Group (BCG) mostrou que 72% dos executivos do setor bancário apontam a resistência à mudança como um dos principais desafios para a transformação digital. Em grande parte, essa resistência é reflexo direto da dependência de sistemas legados e da cultura que eles ajudaram a construir.

O custo oculto da integração forçada

Fazer a integração de sistemas legados com novas tecnologias e aplicações é uma tarefa desafiadora que muitas vezes traz custos inesperados. Sem APIs padronizadas e com formatos de dados incompatíveis, cada projeto de integração acaba se tornando mais complexo e demorado do que o previsto. Isso obriga as equipes a desenvolver middleware personalizado e, em alguns casos, a fazer traduções manuais de dados, o que aumenta ainda mais a carga de trabalho.

Essas soluções, embora necessárias, acabam criando fragilidades no ambiente de TI. Além de serem difíceis de manter, consomem recursos valiosos e tornam a infraestrutura mais complicada de gerenciar.

Segundo a IDC, em 2023, os gastos relacionados à integração de sistemas legados representaram até 40% do orçamento total de projetos de transformação digital em bancos. Tudo isso evidencia como tecnologias antigas dificultam o avanço, desviando investimentos que poderiam ser aplicados em inovações mais estratégicas.

A experiência do cliente prejudicada por sistemas desatualizados

Os sistemas legados, com suas estruturas fragmentadas e dados isolados em departamentos, dificultam a criação de uma visão completa do cliente, gerando uma experiência fragmentada, onde processos burocráticos, atendimento inconsistente e falta de personalização são comuns.

Hoje, os consumidores esperam interações rápidas, integradas e acessíveis em qualquer canal. No entanto, bancos que ainda dependem de sistemas antigos enfrentam dificuldades para atender a essas expectativas, ficando atrás de fintechs que já nasceram digitais e oferecem serviços mais alinhados às necessidades do cliente moderno.

Um estudo da Bain & Company revelou que instituições financeiras com sistemas modernizados conseguem oferecer experiências 60% mais satisfatórias do que aquelas que ainda operam com plataformas legadas. Esse dado reforça a importância de investir na transformação tecnológica para não perder relevância no mercado.

A inovação interrompida antes de começar

A capacidade de inovar é essencial na era digital, mas os sistemas legados atuam como uma barreira constante. A dificuldade em experimentar, testar e implantar novas soluções em um ambiente rígido desmotiva as equipes e limita o potencial criativo. Muitos projetos promissores são abandonados antes mesmo de serem implementados, devido à complexidade e aos altos custos de integração com sistemas antigos.

De acordo com um relatório da Capgemini, em 2024, a incapacidade de inovar rapidamente por causa da dependência de sistemas legados é um dos três principais motivos pelos quais bancos tradicionais perdem mercado para fintechs.

A fuga de talentos e o ciclo de obsolescência

A dependência de tecnologias antigas cria outro problema sério para os bancos: a dificuldade de atrair e reter talentos. Profissionais qualificados, especialmente os mais jovens, buscam ambientes que ofereçam desafios e a chance de trabalhar com ferramentas modernas.

Enquanto isso, a escassez de especialistas em tecnologias legadas, como COBOL, agrava o problema. Sem pessoas para manter esses sistemas e com dificuldade para atrair novos talentos, os bancos acabam presos em um ciclo de obsolescência, que perpetua a dependência de plataformas ultrapassadas.

A segurança em sistemas legados: um desafio crescente

Além das falhas operacionais, os sistemas legados representam um problema crítico de segurança. Arquiteturas antigas e códigos desatualizados ampliam os riscos, tornando o ambiente de TI um alvo atrativo para cibercriminosos. A falta de suporte para versões antigas de software e hardware agrava a situação, expondo os bancos a vulnerabilidades conhecidas que não podem ser corrigidas.

De acordo com um relatório da IBM Security, o setor financeiro foi o mais visado por ataques cibernéticos em 2023. Grande parte desses ataques explorou brechas em sistemas legados, evidenciando como a tecnologia ultrapassada pode comprometer não apenas dados sensíveis, mas também a confiança dos clientes.

Hora de agir

Os desafios trazidos pelos sistemas legados vão muito além de questões técnicas. Eles dificultam a modernização, criam barreiras para atender às necessidades dos clientes e limitam o crescimento das instituições financeiras. Superar esses obstáculos exige mais do que a simples atualização de tecnologias. É necessário revisar prioridades e adotar uma estratégia que considere tanto a estrutura organizacional quanto as demandas do mercado.

Sem uma ação decisiva, os bancos correm o risco de perder espaço para concorrentes mais ágeis e de atender de forma insuficiente às expectativas dos clientes, que esperam soluções cada vez mais rápidas e integradas.

Cleyton Hort

Cleyton Hort

Cristão, marido, pai de três filhos, CEO e co-fundador da Lyncas, e flamenguista! Atua na gerência de projetos, com certificação PMP (Project Management Professional) e acredita que a ética e o respeito às pessoas são a base de qualquer relação sólida e duradoura. Ama curtir momentos em família e torcer pelo time de coração. Somos raça, amor e paixão!

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