Gerenciar equipes de tecnologia em bancos exige equilíbrio entre inovação, eficiência e cumprimento de regulações cada vez mais rigorosas. Com a digitalização acelerada e a concorrência acirrada de fintechs, muitas instituições financeiras adotam uma abordagem que prioriza a execução de diversos projetos ao mesmo tempo.
Embora pareça uma solução para atender às múltiplas demandas do mercado, essa estratégia pode trazer efeitos colaterais graves. A sobrecarga das equipes de TI, o aumento de falhas operacionais e a queda na qualidade das entregas são alguns dos riscos que colocam em xeque o desempenho das instituições.
Três áreas cruciais, diretamente relacionadas à capacidade de execução e à eficiência das equipes, precisam ser analisadas com atenção, especialmente por gestores de tecnologia e executivos estratégicos.
Neste artigo você vai ver:
A complexidade das operações bancárias e seus desafios estratégicos
As operações bancárias vão muito além do que aparentam. Sistemas legados, processos detalhados e regulamentações em constante mudança formam uma rede que exige especialização técnica e planejamento cuidadoso.
Cada produto financeiro apresenta suas próprias exigências, desde precificação e liquidação até conformidade regulatória. A tecnologia, muitas vezes desenvolvida em diferentes períodos históricos, precisa ser ajustada para operar de forma integrada. Além disso, a expansão global das instituições impõe o gerenciamento simultâneo de múltiplas moedas, fusos horários e exigências regulatórias específicas, como as normas do Banco Central do Brasil ou as diretrizes do Comitê de Basileia.
Gerenciar riscos nesse ambiente requer habilidade para lidar com dados variados, incluindo aqueles não estruturados, e para criar cenários que antecipem eventos inesperados. Modelos de risco tradicionais são insuficientes para conectar variáveis como crédito, mercado e liquidez, que estão interligadas em uma dinâmica constante.
Investimentos em tecnologia avançada e análises detalhadas se tornam indispensáveis. Plataformas modernas, big data analytics e conformidade regulatória são essenciais para sustentar operações eficazes. No entanto, a dificuldade em encontrar profissionais com expertise nas áreas de finanças quantitativas, análise de dados e segurança cibernética eleva o desafio. Atrair e reter esses talentos passa a ser uma prioridade estratégica.
Segurança da informação
A proteção de dados sensíveis, além de ser uma necessidade operacional, tornou-se um elemento central na construção de confiança com clientes e parceiros. Em instituições financeiras, a segurança precisa estar integrada à infraestrutura tecnológica, aos processos internos e à cultura organizacional.
A conformidade com regulamentações como a LGPD no Brasil e o GDPR na Europa exige práticas rigorosas. Criptografia ponta a ponta, mascaramento de dados e auditorias frequentes são indispensáveis para proteger informações em armazenamento, trânsito ou uso, enquanto controles de acesso garantem que apenas pessoas autorizadas manipulem esses dados.
Os ataques cibernéticos evoluíram em sofisticação, explorando falhas tanto em sistemas internos quanto em fornecedores externos. Para mitigar riscos, as instituições têm investido em inteligência contra ameaças, automação de respostas a incidentes (SOAR) e ferramentas avançadas de análise de malware.
Com a popularização da computação em nuvem e o uso crescente de APIs, a segurança precisa acompanhar essas mudanças. Ferramentas como CASBs oferecem visibilidade e proteção em ambientes híbridos e multicloud. Além disso, práticas como DevSecOps integram a segurança ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento de software, reduzindo vulnerabilidades e fortalecendo operações.
O desafio de inovar no setor bancário
A expansão das fintechs e o avanço acelerado da digitalização no setor financeiro colocaram os bancos tradicionais sob uma pressão crescente para inovar. Nesse mercado altamente competitivo, a inovação deixou de ser um diferencial estratégico e passou a ser uma condição básica para a sobrevivência.
No entanto, inovar vai muito além de automatizar processos antigos. Exige repensar o modelo de negócios, colocando o cliente no centro das decisões e utilizando dados para personalizar interações. É uma mudança que se reflete na adoção de tecnologias como Inteligência Artificial, Machine Learning, Blockchain e Internet das Coisas. Essas ferramentas permitem criar produtos e serviços inéditos, otimizar operações e tornar a experiência do cliente mais ágil e intuitiva.
Apesar das vantagens, a implementação dessas tecnologias enfrenta barreiras significativas. A integração com sistemas legados, muitas vezes antigos e centralizados em mainframes, é um dos maiores desafios. Além disso, preparar equipes para operar em um ambiente tecnológico mais avançado requer investimentos em capacitação e, muitas vezes, mudanças profundas na cultura organizacional.
Outro aspecto essencial é a necessidade de adotar práticas modernas de desenvolvimento, como DevOps e metodologias ágeis, que incluem frameworks como Scrum e Kanban. Essas abordagens ajudam a acelerar a entrega de novas soluções e promovem um ambiente de colaboração entre as equipes. No entanto, sua implementação depende de uma transformação cultural significativa, com a quebra de barreiras internas e o apoio consistente da liderança.
Parcerias com startups, criação de hubs de inovação e programas de aceleração têm se mostrado estratégias valiosas para acessar novas tecnologias, atrair talentos e explorar modelos de negócios disruptivos.
No entanto, para que essas iniciativas tragam resultados concretos, é fundamental estabelecer uma governança clara. Isso inclui desde a gestão da propriedade intelectual até a mitigação de riscos e a integração dessas soluções no ambiente tecnológico do banco, garantindo conformidade regulatória e segurança em todas as operações.
A sobrecarga de trabalho, reflexo direto da exigência por múltiplas entregas simultâneas, tornou-se um problema estrutural no setor bancário. As equipes, frequentemente operando no limite, são encarregadas de uma lista interminável de tarefas: modernizar sistemas legados, desenvolver produtos digitais e garantir conformidade com uma complexa e mutável rede de regulamentações. Tudo isso ocorre enquanto enfrentam desafios estruturais e culturais que dificultam a fluidez no trabalho.
As consequências são evidentes. Profissionais qualificados acabam presos em um ciclo de estresse, prazos inalcançáveis e frustração constante.
Um estudo da Universidade de Stanford destaca que, após 50 horas semanais, a produtividade começa a despencar drasticamente. A partir de 55 horas, a queda é tão significativa que as horas extras se tornam quase inúteis. Esse cenário é uma realidade comum para equipes bancárias, que lidam com demandas urgentes e volumosas, mas raramente têm o tempo ou os recursos necessários para aprofundar as soluções de maneira satisfatória.
As características próprias do setor bancário acabam agravando os efeitos da sobrecarga de trabalho. Operações complexas, a pressão constante para garantir segurança máxima das informações e a demanda por inovação criam um ambiente que favorece o esgotamento profissional, conhecido como burnout.
Uma pesquisa da Gallup, com mais de 7.500 trabalhadores, revelou dados alarmantes onde profissionais que enfrentam burnout com frequência têm 63% mais chances de tirar licença médica e 23% mais probabilidade de buscar atendimento de emergência. Para os bancos, os custos desse problema são altos, envolvendo despesas com saúde, queda na produtividade e aumento da rotatividade de talentos.
Em meio a atrasos frequentes nos projetos, a “Síndrome do Sísifo Corporativo” se instala, pois o foco deixa de ser a qualidade e passa a ser a quantidade. Em vez de pensar estrategicamente ou trazer soluções de maior impacto, profissionais acabam presos a demandas operacionais repetitivas, sem espaço para aprimorar seu desempenho ou explorar novas ideias.
Estudos como o da KeyedIn Projects, comprovam que mais da metade dos projetos no setor financeiro falham ou não atingem seus objetivos. Entre os principais motivos estão problemas de gestão, prioridades mal definidas, falta de recursos e a dispersão do foco. Essa lógica de “quanto mais projetos, melhor” frequentemente resulta no oposto: desperdício de recursos, esforços fragmentados e entregas abaixo do esperado.
As demandas do setor bancário têm sufocado o espaço para a inovação. Sobrecarregadas com tarefas operacionais e emergenciais, muitas equipes não conseguem dedicar tempo ou energia para criar novos processos, testar tecnologias ou pensar em soluções estratégicas. Essa limitação, apontada pelo relatório “Forging the Future” da Deloitte, reflete a ausência de uma cultura que priorize a inovação e é agravada pela falta de recursos e organização.
Enquanto isso, fintechs mais ágeis ganham terreno, atendendo rapidamente às necessidades dos clientes com soluções práticas e acessíveis. A lentidão e a burocracia das instituições tradicionais, somadas à dificuldade em se adaptar, acabam ampliando a desvantagem competitiva.
A conformidade regulatória é outro ponto sensível no setor. Com uma extensa lista de normas destinadas a garantir a segurança financeira e proteger consumidores, os bancos precisam investir entre 4% e 10% de sua receita anual para atender a essas exigências, segundo um estudo da Thomson Reuters.
O problema surge quando equipes já sobrecarregadas enfrentam dificuldades para realizar controles rigorosos. Pequenos deslizes podem gerar multas significativas, restrições de operação e até prejuízos à reputação, afetando diretamente a relação com os clientes e a estabilidade da instituição.
O excesso de projetos simultâneos tem se mostrado um obstáculo crítico para os bancos. A produtividade cai, talentos se perdem, a inovação estagna e os riscos regulatórios se tornam mais difíceis de gerenciar. Juntos, esses fatores criam um ambiente que pode comprometer a sustentabilidade financeira e a capacidade de competir no mercado.
Para superar esses desafios, gestores e líderes, especialmente da área de tecnologia e do alto escalão, precisam revisar suas prioridades. Isso significa escolher com mais cuidado quais iniciativas merecem investimento, abandonar aquelas com menor impacto estratégico e delegar atividades de forma mais inteligente.
Contar com parceiros especializados pode ajudar os bancos a enfrentar melhor os desafios operacionais. Ao incumbir áreas ou projetos específicos a equipes externas experientes, as instituições liberam recursos internos para atuar em frentes estratégicas, como o desenvolvimento de novos produtos, a melhoria da experiência do cliente e o cumprimento das regulamentações.
Essas parcerias se mostram ainda mais relevantes no contexto de transformação digital. Elas permitem que os bancos mantenham o foco no que realmente importa e enfrentem a concorrência com maior agilidade, garantindo entregas de qualidade e aliviando a pressão sobre suas equipes internas.