Liderança: o olhar feminino na transformação organizacional

Andreia Justo - Liderança feminina na Lyncas

Inconformada! É assim que a nossa recém chegada Diretora de Transformação Organizacional, Andreia Justo, descreve a si mesma. Ela, que descobriu ainda na adolescência, a convicção de que a tecnologia era a sua paixão, hoje, tem mais de 25 anos de experiência no desenvolvimento de negócios em empresas nacionais e multinacionais. Chegou na Lyncas para promover uma mudança organizacional, com o desafio de contribuir para a estruturação e padronização de processos.

Entretanto, não é apenas o seu currículo impressionante, que certamente tem muito a contribuir para qualquer empresa, que chama a atenção. Mas também o cuidado, a atenção e olhar sensível para com a sua equipe que a experiência e seu instinto feminino trazem para o dia a dia do trabalho.

Convidamos você a descobrir mais sobre sua trajetória profissional, suas experiências e sua visão de futuro para a área de tecnologia e gestão de mudança. Acompanhe a seguir nossa entrevista com Andreia Justo.

 

Lyncas: Antes de falarmos sobre tecnologia, liderança e transformação, conta para a gente quem é a Andreia!

Andreia Justo: Sou natural de Porto Alegre, mas resido há quase 30 anos em Joinville com minha filha, meu neto e nosso cachorro. Adoro viajar em família e estar em contato com a natureza. Mesmo que não seja possível ir muito longe, buscamos sempre nos movimentar para arejar, respirar novos ares.

Sou uma pessoa muito agitada e inconformada com as coisas. Não posso ver injustiça, não posso ver que as coisas não estão sendo feitas da melhor forma. Por isso, estou sempre buscando me aprimorar e apoiar os outros com esse aprimoramento. Acho que a gente sempre tem que buscar melhorar para se aperfeiçoar para conseguir alcançar novos objetivos.

 

L: E como foi sua trajetória e formação?

AJ: Aos 14 anos eu decidi que queria trabalhar com esse negócio chamado computador. Não sabia muito bem o que era – quase ninguém sabia na época – mas tinha certeza de que essa seria a minha carreira profissional.

Fiz o ensino médio em processamento de dados e assim que terminei decidi que ia trabalhar. Por sorte, sempre tive uma família que apoiou muito nossas decisões, tanto minhas, quanto da minha irmã, e eles deram todo o suporte nessa decisão. Então, bati na porta de um vizinho que morava no nosso prédio e que tinha uma empresa de processamento de dados e disse que queria uma oportunidade de trabalho com ele para aplicar o que estudei e aprender os processos.

Lá eu fiquei durante um ano e meio até ser convidada para trabalhar em outra empresa.

 

L: O que te levou a iniciar nesse mercado de desenvolvimento de negócio e transformação organizacional?

AJ: Minhas experiências profissionais foram sempre muito interessantes e desafiadoras. Logo na segunda empresa que trabalhei, eu me deparei com uma demissão do time de 15 pessoas que só ficaram eu, o gerente e o estagiário. Apesar de assustador no primeiro momento, aquilo foi uma escola. Eu tive que fazer de tudo, até mesmo colocar impressora embaixo do braço e ir no depósito trocar equipamento.

Com isso eu comecei a entender as conexões das diversas áreas. Compreender como funcionava a área comercial e como ela se relacionava com a operação, por exemplo. Isso foi criando essa massa crítica, uma curiosidade para entender o porquê as coisas funcionavam de um jeito e não de outro. Então, foi um processo natural de amadurecimento que me despertou para essa promoção de mudanças.

Fui desenvolvedora por um tempo, mas depois comecei a trabalhar com projetos e fui  afastando do dia a dia de codificação, mas me mantive sempre nesse ambiente de TI.

Fiquei muitos anos fazendo consultoria, trabalhando projetos, processos, planejamento estratégico e isso foi abrindo um pouco mais meu leque profissional e trazendo uma bagagem sensacional. Porque quando você tem um contato direto com cliente, com empresas dos mais diversos segmentos, você consegue perceber as dores e pensar em soluções para implementar.

 

L: Aqui na Lyncas você tem o cargo de diretora de transformação digital. O que isso significa especificamente? Como você planeja contribuir com o time?

AJ: A Lyncas cresceu e cresceu muito nesse pouco tempo. Um mérito de todo mundo que está aqui que foi fazendo do seu jeitinho e da melhor forma que poderia. Isso é normal, mas agora a gente precisa organizar a casa, preparar pessoas e estruturar processos para chegar em outro patamar, crescendo de forma sustentável.

Então, é para isso que estou aqui, pra ajudar a gente a organizar e definir processos, de forma padronizada. Claro que não são padrões rígidos, porque hoje em dia empresas não podem mais ter essa rigidez, elas precisam de flexibilidade, mas é muito importante ter um caminho bem definido.

A gente vai organizar isso e alavancar o crescimento conforme o planejamento, com o grande desafio de estruturar e pôr em prática as mudanças com o avião em pleno voo. Porque não tem como parar toda a empresa fazer treinamentos, e pedir para os clientes esperarem enquanto estamos nos estruturando.

A gente vai soltando pílulas. Mexe um pouquinho aqui e isso vai apertar ali do outro lado, então a gente vai correr lá e ajustar do outro lado, e assim vai conseguir manter o avião voando bem, trazendo resultados.

 

L: Um cargo de liderança, especialmente nesse escopo de promoção de mudanças, é um cargo de muita responsabilidade. Quais as principais características que um líder precisa ter?

AJ: Quando se fala em promover mudança, a gente está falando de preparar as pessoas para que todos estejam juntos no mesmo movimento, caminhando para o mesmo objetivo. Não é só ir lá e desenvolver alguma coisa ou projetar um caminho e falar: “agora é com vocês”. É trazer ferramentas para apoiar, revisar processos e monitorar.

A gente precisa se colocar nesse lugar de colaboração, de ouvir e se unir para buscar uma solução interessante. É muito importante estar junto com seu time e eu gosto de dar autonomia para a equipe, mas estou sempre ali no suporte para a gente sempre tentar achar uma solução.

E não existe uma solução perfeita, principalmente quando estamos falando de gestão. Todos os caminhos são válidos, só que os frutos colhidos serão diferentes. Então, não tem certo ou errado, o que existe é um momento atual da empresa, um cenário da cultura que está instalada e a gente precisa sempre tentar achar o melhor caminho. Vai ter um problema nesse caminho e a gente não pode ignorar isso, e fazer de conta que o mundo é perfeito. Conforme as coisas vão andando, a gente vai entendendo melhor as coisas e vai podendo fazer novas escolhas.

 

L: Em algum momento o fato de ser mulher atrapalhou sua trajetória profissional?

AJ: Logo no início da minha carreira, trabalhei com um gerente que era muito machista e usava termos bem absurdos, linguajar inapropriado. Isso foi logo no início da minha carreira, então eu estava ali, tentando entender como era o mercado de trabalho, lidando com aquilo, até que chegou um determinado momento que eu entendi que não podia ser daquele jeito, que estava errado.

Foi quando eu pedi o desligamento do trabalho, mas como eu fazia um bom trabalho, o dono ligou na minha casa e falou que precisava falar comigo, que eu não poderia sair assim. Fizemos uma negociação e eu acabei ficando mais um tempo lá, respondendo diretamente a ele.

Na sequência acabei indo para outros ambientes, encarando novas oportunidades. Mas assim, a mulher além de ter que mostrar sua competência, acaba tendo que, às vezes, passar por situações que não merece e não deveria passar. Isso foi aflorando ainda mais esse meu senso de justiça.

 

L: E você passou por outras situações assim ao longo da sua carreira? 

AJ: Infelizmente sim. Já lidei com homens com uma mentalidade ainda muito fechada e tive que matar muitos leões por conta disso. Tinha dias que eu tinha que ser dura, firme para dizer que certas coisas não se fazem e não podem ser ditas para colaboradoras e para ninguém. Estive em reuniões que ouvi eles dizerem que não contratam mulheres porque mulher engravida. E não existe isso.

Mulher engravida, sim; mulher tem TPM, sim, mas mulher produz super bem. A mulher é muito mais cuidadosa, muito mais atenciosa, tem as suas características muito positivas para o seu dia de trabalho. Essas múltiplas jornadas que a mulher, infelizmente nos dias de hoje, ainda carrega sozinha, faz com que ela tenha flexibilidade.

 

L: Como você enxerga essa diferença entre homens e mulheres? Existem, de fato, diferenças na forma de gerir os negócios?

AJ: Existem, sim. Homens costumam ser muito objetivos em algumas coisas, e às vezes a objetividade faz com eles não pensem no todo, nos impactos daquilo, nos reflexos que aquela decisão ou aquele direcionamento vai trazer. A mulher é um pouco mais cuidadosa nesse sentido, tem uma atenção um pouco maior aos detalhes que homens costumam passar por cima. Além da sensibilidade.

Alguns homens têm essa sensibilidade também, mas isso é muito mais comum nas mulheres, de perceber que aquela pessoa no ambiente de trabalho está com alguma dificuldade, ou que ela precisa que alguém estenda a mão.

Percebo isso ser muito mais comum nas mulheres. Essa predisposição de ir e apoiar o outro e se colocar ali à disposição caso a pessoa queira falar sobre alguma coisa, queira compartilhar algo. Dar esse suporte, os homens às vezes não se dão conta dessas variações das pessoas.

 

L: E como essas características impactam no dia a dia dos negócios?

AJ: Pessoas felizes. Esse é um ponto fundamental. Quando as pessoas se sentem acolhidas, elas ficam mais felizes, elas são mais produtivas e se sentem comprometidas com o resultado.

E pessoas felizes não são pessoas que obrigatoriamente são bem remuneradas. Claro que tem que ter uma remuneração justa, mas não é isso. Vai deixar a pessoa super feliz se ela perceber que ela vai ter o apoio, que ela tem alguém olhando por ela como um ser humano, não só como profissional. Falo bastante sobre estabilidade e segurança psicológica. É muito importante dar esse suporte, apoiar mesmo nos momentos que elas estão produzindo menos. Não só pela empatia, mas porque a gente vai colher os frutos lá na frente. Pessoas felizes vão gerar resultados que a empresa precisa, porque elas se sentem seguras.

 

L: Quão importante você considera termos mais mulheres em cargos de liderança?

AJ: Não podemos ignorar que a gente precisa se colocar na posição cada vez mais à frente. Nossa luta é dura. Uma mulher que eu acho sensacional é a Luiza Trajano (empresária brasileira que comanda a rede de lojas de varejo Magazine Luiza), porque ela se colocou numa posição de liderança, tomou para si as responsabilidade e não é de agora. Ela é uma mulher de uma força impressionante e que, sem dúvida, inspira outras mulheres. Precisamos de mulheres inspirando outras mulheres.

E, pensando no ambiente das empresas, é preciso um equilíbrio. Precisa ter homens nas empresas, claro que sim. E também mulheres, principalmente porque vamos complementar muito bem alguns pontos de atenção com relação ao cuidado com as pessoas. Vamos imprimir nossas características de condução e resolução de problemas e trazer um olhar mais sensível para o lado humano.

 

L: Como você vê a aceitação do mercado com a entrada de mulheres em cargos de liderança e na área de tecnologia?

AJ: Hoje está mais comum encontrar mulheres na tecnologia, mas a área ainda é bastante masculina. Há dois anos dei uma palestra para o projeto “as minas da TI”, que incentiva as meninas a não desistirem do curso, porque muitas abandonam por falta de oportunidade.

É um caminho muito grande a ser percorrido. Uma luta forte de ter que se provar o tempo inteiro. A gente vê e escuta coisas sendo feitas com mulheres ou com a gente mesmo e precisamos confrontar; e nos posicionar como mulheres fortes, de conhecimento, inteligência e com muita coisa a agregar. Não podemos mais ter mulheres se portando como homens para serem respeitadas.

Essa é uma cultura que vem da educação, por isso acho que ainda vai demorar mais um tempo, precisamos construir isso nas nossas gerações futuras. Aqui em casa, com meu neto, a gente faz a nossa parte, conversando e construindo dentro de casa esse entendimento.

 

L: Se você encontrasse seu eu de cinco anos atrás, qual dica daria?

AJ: Se mantenha firme. O caminho não vai ser fácil, mas se mantenha firme, porque você vai alcançar o que você quer.

 

L: Qual a sua maior dica para ajudar a promover que outras mulheres atinjam cada vez mais cargos de liderança?  

AJ: É isso né: não desista! Vão ter dificuldades sim, mas esteja pronta. A gente tem que mostrar cada vez mais o nosso valor. Se o homem tem que mostrar competência, a mulher tem que provar duas vezes mais, no mínimo. Então, você vai ter que entrar em embates, não se amedronte. Se esse lugar onde você está não te reconhece, vá achar o seu lugar. Sem medo, porque tem lugar pra gente e você vai achar o seu espaço.

 

A Andreia é apenas uma das muitas mulheres aqui da Lyncas e da área de tecnologia que lutam para deixar seu legado e serem inspiração para outras mulheres dentro e fora de suas empresas.

Gostou desse conteúdo? Confira também: Conheça 10 mulheres importantes na tecnologia

Taissa Renda

Taissa Renda

Especialista em conteúdo, Inbound Marketing e Planejamento Estratégico de Marketing Digital. Apaixonada por viagens (e por colecionar memórias pelo mundo), passeios gastronômicos, filmes e séries. Acredita na geração de ideias como um dos principais instrumentos de transformação.

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